sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Salvação individual

O Gnosticismo desde sempre defendeu que apesar de todos os seres humanos possuírem a “chama divina” (a essência que difere radicalmente da forma) a salvação é um processo individual e nunca colectivo. Ora se a salvação é algo individual a culpa também o é e por isso toda a teologia cristã de pagar pelo pecado original não faz qualquer sentido para o gnóstico. Além disso da perspectiva gnóstica o mundo não foi criado de forma perfeita (longe disso) e como tal nem sequer existe qualquer tipo de pecado original ou uma “queda de Graça”. Quererá isto dizer que para os gnósticos não existe o conceito de pecado? Não exactamente. Os gnósticos interpretam o pecado através do seu significado original; em grego a palavra para pecado era “harmatia” que significa literalmente falhar o alvo. Ora nesse sentido todos em principio pecamos já que por ignorância das Verdades Divinas nem sempre agimos de forma correcta. O objectivo dos mensageiros da Luz (já mencionados em posts anteriores) é precisamente estimular a nossa capacidade de quebrar as correntes de ignorância que nos prendem.

Através dos esforços dos mensageiros da Luz alguns indivíduos acordam e devotam o seu tempo e esforço à exploração das realidades espirituais tornando-se desta forma verdadeiros Gnósticos (aqueles que sabem, que possuem conhecimento) enquanto os outros continuam inevitavelmente presos a tudo o que é terreno. Isto tem frequentemente levantado acusações de elitismo por parte dos gnósticos, como se considerássemos o resto da Humanidade como desprezível. A realidade é bem diferente. Os gnósticos simplesmente reconhecem que existem diferenças entre os vários seres humanos e que alguns estão conscientes das realidades superiores enquanto outros permanecem ignorantes. E para demonstrar por acções a falsidade de tal acusação basta ver que religiões ou grupos religiosos cometeram inúmeras atrocidades em nome da sua fé – pessoalmente penso que o facto de o gnóstico ter experiência directa do Divino (gnose), enquadrada pelos elementos base do gnosticismo e pela prática religiosa, o torna confiante o suficiente para não ter que procurar confirmação fora de si próprio.

Uma outra acusação que surge com igual frequência é a de que os gnósticos tendem para o niilismo porque a sua visão demoniza o mundo. Mais uma vez a realidade é bastante diferente da acusação simplista e sem nuances que nos é lançada. De um ponto de vista pessoal o Gnosticismo não é niilista mas simplesmente encara o Espírito como intrinsecamente superior à matéria mas sempre defendendo que a gnose tem que ser atingida enquanto somos seres físicos – o suicídio, para dar um exemplo, é do nosso ponto de vista improdutivo pois a morte não conduz automaticamente à gnose levando apenas à reencarnação até que esta (gnose) seja atingida. De um ponto de vista mais sociológico a acusação de oposição à lei devido à sua natureza material é apenas verdade nos casos em que um código legal é apresentado sem uma argumentação explicativa. Para o gnóstico o importante é o raciocínio por detrás da lei, o estado de Espírito. Como conclusão poderíamos dizer que os gnósticos não odeiam o mundo em sim mas apenas as muitas (e inevitáveis) falhas que este possui e procuram salvação não na fé ou em instituições mas apenas na gnose, algo puramente espiritual e dependente de cada individuo.

Sem comentários: